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A indenização

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Eu tinha de 11 para 12 anos  quando  meu pai era Ministro da Justiça, com direito a carro preto na porta – um Cadilac, com  placa de bronze  e sirene para as ocasiões de emergência. É claro que, com aquela idade, não tinha exata noção dos acontecimentos,  mas mantenho na memória muitas situações presenciadas  na época, quando a família Jurema vivia na Rua Cesário Alvim cercada da curiosidade pública. Lembro, por exemplo, que em 1962 viajei com meu pai a Brasília, junto com o meu irmão caçula, o João Luiz.  Recém-inaugurada, com o barro vermelho a lhe cobrir o chão, a nova capital federal ainda engatinhava,  mas era possível observar a sua imagem futurista , não apenas pelas formas arquitetônicas, mas, também, pelas novidades que trazia a sua engenharia urbana, sem sinais de trânsito, sem cruzamentos, e com a sua geografia  dividida de forma racional e descomplicada. Em Brasília,  ficamos no apartamento funcional destinado aos ministros de Estado. Um imóvel confortável, amplo, mas longe de ser luxuoso. Não existiam as casas do Lago Sul nem a Península dos Ministros, e meu pai, em que pese a importância de sua posição, mantinha a sua simplicidade e agia como um servidor público, sem pompas nem circunstâncias. No Rio de Janeiro, morávamos em casa alugada no tranquilo bairro de Botafogo, numa área conhecida como Humaitá. Vivíamos modestamente, sem esbanjamento nem direito a funcionários pagos pela União, a não ser dois agentes da Policia Federal que faziam a  segurança do Ministro e  da sua família. Meu pai, muitas vezes,  tentou fazer com que eles fossem para casa,  abdicando dos seus serviços, mas os homens  cumpriam ordens e se mantinham sempre nas proximidades. No Brasil de hoje, as coisas são bem diferentes. Os políticos , seja qual for o seu grau de influência, de vereador a senador, possuem um elevado padrão de vida. Em poucos anos no exercício do mandato, multiplicam muitas vezes o seu patrimônio, com gastos incompatíveis com os rendimentos salariais, contemplados através de benesses que vão desde o carro oficial com gasolina e motorista; passagens aéreas  e uma série de vantagens acumuladas em seus contracheques, incluindo auxílio moradia, auxílio paletó, verba de gabinete, plano de saúde,  celular com wifi e créditos ilimitados, e, por último, uma tal verba indenizatória criada para ressarcimento de despesas outras, não especificadas,  que realizem nas mais diversas situações. Na semana passada, a Câmara Municipal de João Pessoa aprovou um projeto de Resolução destinando a módica quantia de R$ 2. 200 milhões a título de Verba Indenizatória aos senhores vereadores, para ressarcimento de possíveis gastos em atividades diversas, bastando para isso apresentarem notas fiscais de suas despesas. E assim caminha a humanidade, com o dinheiro público sendo distribuído largamente a alguns poucos, enquanto as pessoas comuns amargam  a sensação de abandono nos corredores dos hospitais, aguardando atendimento precário e, por vezes, desumano. Verba Indenizatória faz mal à saúde... dos outros.

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