Esta semana, nas primeiras horas da
manhã, no cruzamento das avenidas Edson Ramalho com a Ruy Carneiro, um
casal de adolescentes, de 15 ou 16 anos , faziam malabarismos no sinal
de trânsito,
para conseguir algum dinheiro para matar a fome ou para cheirar a cola
que lhes tiraria o apetite. Um pouco mais adiante, na entrada da
agência da Caixa Econômica, protegidos da chuva pela marquise do
Mercado de Artesanato, três outras crianças, entre 13
e 17 anos, dormiam próximo à entrada da agencia da Caixa Econômica.
Diante dessas situações
constrangedores, que nos deixam enrubescidos de vergonha pela
incapacidade da sociedade brasileira de resolver os seus problemas mais
prementes, fiquei a pensar no
decantado Estatuto da Criança e do Adolescente, um dos mais importantes
documentos do nosso tempo, criado, justamente, para amparar os menores e
lhes garantir o direito à educação e uma vida digna.
Pelo Estatuto em vigor, menores estão
sobre a proteção do Estado e não podem ser objeto de negligência,
discriminação, exploração , violência, e opressão. Por Lei, estão
isentos de levar
uma palmada dos pais ou ser repreendido severamente pelos seus
professores por conta do “constrangimento moral”. De outra parte, veda o
trabalho infantil, não permitindo que exerçam atividades laborais mesmo
que periódicas e com a supervisão do pai ou responsável.
Isso significa, que, diferente dos meus
tempos de adolescente, quando, aos 15 anos, conheci o valor do trabalho
como office-boy numa financeira, meninos e meninas não podem ajudar
os seus
pais , mas podem servir ao tráfico, se prostituir e fazer malabares
nas ruas. Estão proibidos de conseguir ganhar alguns trocados com uma
caixa de engraxate mas estão aptos a manusearem metralhadoras,
delinqüir, assaltar e matar.
No País do carnaval, o Poder Público
prefere fechar os olhos e permitir que as suas crianças continuem a
cantar a velha marchinha: “ei, você aí, me dá um dinheiro aí!”.
Os direitos da criança
11 Jun 2020- 194