Ele é um personagem singular, dono de uma personalidade marcante a quem
ninguém fica indiferente. Profissionalmente, é um homem das Leis e
dificilmente perde uma causa como advogado diligente que efetivamente é.
Pessoalmente, é o inverso de sua profissão, revelando-se
um adorável anarquista, despojado de qualquer valor material, que
desacredita na política, que não crê nos políticos (salvo honrosas
exceções) e que vive no limite entre o real e a fantasia.
Tem a quem puxar. Filho de dona Creusa Pires, que dividia a sua vida entre a responsabilidade de suas atividades de comerciante,
a incontida vocação para ajudar o próximo e compartilhar a sua alegria, Marcos Pires
carrega consigo o espírito zombeteiro que
consegue se divertir com as coisas sérias, que não tem tempo a perder
com o que não é importante, que optou em fazer de si mesmo o centro de
suas atenções, de usufruir a natureza,
de compartilhar os amigos, de ser feliz com os dons com que Deus o
abençoou.
Há alguns anos, seguindo o exemplo de sua mãe, Marcos dos Anjos Pires Bezerra
decidiu criar um bloco de carnaval, mas não um daqueles grupos comportados e elitizados, que saem uniformizados em abadás,
dentro de um cordão de segurança, desfilando um entusiasmo contido e aparente.
- A idéia básica sempre foi combater a utilização de patrocínios e
principalmente de recursos públicos. No meu bloco só há espaço para a
alegria, afirma.
Estava criada a Baratona, o
auto-retrato da sua alma de folião. Um bloco sem regras, sem estatutos, sem diretoria e sem obrigações.
Sob a sua liderança, natural e espontânea, fruto do seu carisma pessoal, a idéia foi tomando corpo.
A cada ano se fortalecendo como uma trincheira de quem acredita que o carnaval ainda é a maior expressão
coletiva de amor, solidariedade e, até mesmo, de
insubordinação contra tudo o que nos aflige em nosso cotidiano.
Amanhã é dia da Baratona que vai desfilar pela orla do Cabo Branco.
Temos todos que agradecer a Marcos Pires a oportunidade de desfrutarmos
a mais autêntica manifestação carnavalesca, ingênua, livre, amistosa e
afetiva. Uma festa que viraliza, que contamina
como um poderoso energético;
que nos permite
sonhar e mergulhar no reino da fantasia como uma viagem alucinante.
A alma do folião
13 Jun 2020- 177