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A árvore e o jabuti

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Abelardo Jurema Filho  
 
O assunto predominante esta semana nas rodas intelectuais da cidade foi o projeto de Lei da senadora Nilda Gondim, em tramitação no Senado Federal, que altera a denominação do aeroporto Castro Pinto para José Maranhão, justificando a sua proposição pelo fato do ex-governador ter sido um apaixonado pela aviação civil, como piloto amador.  
- “No intuito de reverenciar sua memória, identificamos na designação do aeroporto localizado na região metropolitana de João Pessoa, oportunidade única de prestar homenagem condizente com a figura valorosa desse paraibano que se tornou destacada personagem da cena política local, regional e nacional”, destaca a senadora.  
Ninguém desconhece isso. Mas na Academia Paraibana de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, muitas vozes se levantaram contra a proposição da senadora que, embora imbuída das mais nobres intenções, comete uma imperdoável injustiça com um paraibano não menos ilustre, que exerceu os mais altos cargos na República e que não merece ter revogada uma homenagem que lhe foi conferida em reconhecimento aos serviços que prestou aos conterrâneos de sua época.  
Como registro histórico, é preciso salientar que a lei, que denominou o aeroporto da capital de Castro Pinto, foi assinada em 2 de agosto de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Castro Pinto foi deputado federal, em 1907. Um ano depois se elegeu senador e em seguida foi eleito governador (presidente) da Paraíba entre 1912 e 1950. É patrono da cadeira de número 33 da Academia Paraibana de Letras, que tem como fundador Samuel Duarte e também foi um sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.  
Entre tantos pronunciamentos de membros da APL, que se posicionaram contra o projeto, destacam-se os argumentos do professor, historiador e pesquisador, José Mário da Silva Branco:  
- José Maranhão merece todas as homenagens que a Paraíba puder lhe prestar e, certamente, haverá outras maneiras de se reverenciar a sua trajetória do grande homem público que sempre foi. Mas realçar a memória de uma personalidade, torpedeando a quem foi alvo de uma homenagem antiga e sedimentada no tempo, fere o bom senso e rasura a história.  
Pessoalmente tenho profunda admiração e respeito pelo senador Maranhão a quem conheci de perto e mantive estreito relacionamento ao longo de sua permanência no Governo da Paraíba. Considero-o exemplo de integridade e devoção à causa pública. Devo-lhe favores incomensuráveis quando, em nome da família Pessoa, fui solicitar a intervenção do Governo para trazer para a Paraíba os restos mortais do presidente João Pessoa, o que fez com as honras de Chefe de Estado, abrigando os seus despojos no Mausoléu que ele mesmo mandou construir nos jardins do Palácio da Redenção.  
Mas, nesse episódio, estou ao lado dos que defendem a manutenção da história. Que não aceitam que seja modificada ao humor dos poderosos de plantão. E faço minhas as palavras que o meu pai costumava repetir, e que nos ensinam a respeitar direito alheio:  
- Meu filho, quando você encontrar um jabuti em cima de uma árvore, não o retire de lá. Jabuti não sobe em árvore. Por alguma boa razão, alguém o colocou ali.

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