Foi o meu pai, deputado federal por duas legislaturas , Lider na Câmara
do governo Juscelino Kubitschek e ministro da Justiça do Brasil na breve gestão do presidente João Goulart,
quem me deu a mais preciosa lição sobre o significado da palavra
democracia. “É a convivência dos contrários , meu filho. É a arte de
unir, à mesma mesa, opiniões distintas
sobre os mais variados temas, cada um com a sua visão,
defendendo os seus posicionamentos, garantindo-se a todos o
direito de expressão e liberdade de pensamento”, resumia.
Na implacável Wikipédia do Google, democracia também pode ser definida
como o sistema de Governo em que os seus representantes sejam
eleitos diretamente pelo voto popular , para que exerçam o Poder emanado
do povo e que em seu nome seja exercido. Há quem enxergue que
Democracia pode não ser a melhor, mas, seguramente, é
forma mais justa para que prevaleça a vontade da maioria e as minorias sejam respeitadas.
Já o ex-presidente Tancredo Neves, do alto de sua sabedoria como uma das mais lúcidas
e cautelosas lideranças políticas do País,
repetia a todo instante que “Democracia é a arte do possível, e não do
perfeito”, tentando explicar as muitas contradições de um sistema que
está, à toda hora, indo de encontro
à vontade popular e desapontando os eleitores que sempre exercem o seu
direito de voto na esperança de mudanças que melhorem a sua qualidade de
vida.
Democracia também é direito de escolha. Eu, por exemplo, nunca
votei no ex-presidente Lula embora admirasse a sua trajetória iniciada nos movimentos sindicais do ABC paulista até levá-lo à Presidência
da República . Também não votei
no Capitão Jair Bolsonaro, em quem jamais enxerguei o equilíbrio
e as qualidades de estadista necessárias a quem se propõe a governar o
Brasil,
além de discordar do seu estilo autoritário,
provocativo, mal educado e beligerante.
Agora o Brasil vive um momento de radicalização. Um impasse
constitucional perigoso em que, mais do que troca de idéias e
divergências políticas e ideológicas, parte-se para a retaliação, para o
confronto,
para as ofensas e até para a violência e desforço físico, com
ameaças à integridade de quem se atreve a pensar diferente, que não
aceita imposições ou rótulos de esquerda ou de direita, enxergando
alternativas mais viáveis que levem ao entendimento
e à paz de uma Nação dominada pelo ódio e pelas paixões.
Fechamento do Congresso Nacional; dissolução do Supremo Tribunal
Federal; censura à Imprensa e à liberdade de expressão e, por vim, a
volta do AI- 5, medida extrema que provocou muitas vitimas inocentes,
que permitiu a tortura,
que destruiu famílias, que cassou os direitos do
cidadão, que extinguiu as liberdades e garantias individuais, nada disso
haverá de resolver o impasse político e
institucional que vivemos.
O único caminho é a democracia, com diálogo e respeito
às instituições. Fora daí, mergulharemos num poço profundo do qual
todos nós, inclusive os que apóiam o retorno à Ditadura,
haverão de se arrepender amargamente.
A convivência dos contrários
13 Jun 2020- 169