Abelardo Jurema Filho
Mesmo durante o tempo em que exerceu o ministério da Justiça no Governo João Goulart e atingiu o ápice de sua carreira de homem público, meu pai jamais deixou de lado alguns dos hábitos que faziam parte do seu cotidiano. Um deles era o whisky, que bebia regularmente, e o de frequentar assiduamente a Feijoada do Copacabana Pálace, um templo da vida social carioca nas décadas de 50 e 60, onde se reuniam as maiores expressões da política, da economia e da sociedade brasileira. O evento era o prato preferido de jornalistas e colunistas sociais, uma atração nas páginas das revistas O Cruzeiro, Manchete e Fatos e Fotos que eram as publicações de maior evidência no Brasil daquela época.
Jurema era daquelas pessoas que gostava da vida, do calor humano, da mesa farta. Um homem gregário, avesso a solidão e que precisava de plateia para encantar em toda a sua plenitude. O seu programa predileto era estar com os amigos tomando o seu uisquinho e conversando sobre política, cultura, economia e amenidades. Aos que o criticavam, costumava dizer que jamais vira um negócio ser fechado numa leiteria: “grandes decisões são tomadas em mesas de bar”, filosofava.
Mas a presença de Abelardo Jurema na “Feijoada do Copa”, onde circulava com singular desenvoltura, salientada sempre na coluna de Ibrahim Sued (o pioneiro do colunismo social do País, junto com o jornalista Jacinto de Thormes) lhe valia severas críticas dos que faziam Oposição ao Governo, entre eles o governador do Rio, Carlos Lacerda, amparado numa bem preparada artilharia entrincheirada na Imprensa e liderada pelos jornalistas David Nasser e Hélio Fernandes, o primeiro colunista da revista O Cruzeiro, e o segundo diretor da Tribuna da Imprensa, jornal carioca que combatia ferozmente o governo do presidente Juscelino Kubitschek.
- “É o Ministro Feijoada”, bradava Nasser. “Despacha no Copa”, alfinetava Fernandes, tentando ridicularizar e menosprezar a ação daquele paraibano valente que não se intimidava com os queixumes e o mal humor dos que, sem outros argumentos, insistiam em detratá-lo da única forma que encontravam para atingi-lo, uma vez que a sua integridade de homem público era inquestionável.
De bem com a vida, consciente de suas responsabilidades e obrigações com o País, Jurema ia em frente destacando-se entre os mais eficientes Ministros do Governo e transformando-se numa liderança nacional, através de projetos importantes como a criação do Codep – Coordenadoria de Defesa da Economia Popular, que seria o pai do Procon de hoje.
Domingo próximo, após um breve recesso por conta da pandemia, volto com mais uma Feijoada do Abelardo, uma forma de confraternização da sociedade paraibana, criada pela coluna que assino há mais de 40 anos, passando por todos os jornais da Paraíba e publicada agora nas plataformas digitais, onde mantém o seu padrão de qualidade e o compromisso com os leitores paraibanos.
Se é uma homenagem ao meu pai? Não sei, mas deve ser. A inspiração que a fez surgir não pode ter nascido do acaso e com certeza não terá sido uma mera coincidência.
A feijoada dos Abelardos
22 Nov 2021- 283

