Ela deu vida a personagens que marcaram a história da televisão brasileira e que emocionaram
milhões de pessoas , em mais de 50 anos de uma
carreira impecável como atriz de primeira grandeza no cenário artístico
do País. O talento - e a doce meiguice do seu olhar - fez com que
todos se apaixonassem por ela e lhe conferissem
o titulo de A Namoradinha do Brasil, uma forma carinhosa de identificar
uma mulher que conseguia
conquistar o público sem qualquer esforço, apenas com a sua presença forte e carismática.
Ao longo dessa trajetória, Regina Duarte povoou a imaginação criadora de
vários homens de minha geração e foi referência para muitas
mulheres em seus sonhos e conquistas; incluindo viver
um grande amor e uma grande paixão. Não há como esquecer a mocinha
Ritinha, da novela Irmãos Coragem, no inicio dos anos 70,
que lhe deu o aplauso da critica mais severa que demorou a reconhecer o valor do
seu trabalho; da Simone, de Selva de Pedra, a
primeira trama a bater os 100% de audiência, de acordo com os números do
Ibope; a Malu, do seriado Malu Mulher, que foi um marco na luta pela
independência feminina; a Raquel Aciolly, a heroína
politicamente correta de Vale Tudo; e a extravagante Viúva Porcina,
em Roque Santeiro, de Dias Gomes, que deu contornos
definitivos ao seu extraordinário talento de atriz e a consagrou como a grande estrela que sempre foi.
Eis que agora, aos 72 anos, quando já ofereceu a sua inestimável contribuição às artes e à cultura,
como operária de sua profissão; quando nada mais
tem a provar à sociedade brasileira; quando poderia estar aposentada e
feliz vivendo dos proventos que acumulou, honestamente, em tantos anos
de labuta e dedicação
ao povo brasileiro, Regina Duarte é requisitada a
prestar serviços à Nação em outra esfera. Poderia declinar o convite e
continuar a viver a sua vida em paz, com a sua família, sua filha
Gabriela e os netos que Deus lhe deu.
Mas, não. O seu compromisso vai mais além. Ela enxerga que, independente do ódio e da intolerância, de parte a parte, que prevalece hoje
nas relações humanas, no conturbado cenário político do País; das
criticas e incompreensões que, certamente, irá enfrentar daqui para a
frente; das agressões gratuitas e das ofensas que lhe aguardam as redes
sociais, ela não pode fugir ao desafio de
continuar lutando numa área que conhece com a profundidade de muito poucos.
Como a corajosa Malu Mulher, Regina Duarte prefere os versos de
Ivan Lins: “Começar de novo e contar comigo; vai valer a
pena ter amanhecido./ Ter me rebelado, ter me debatido, ter me
machucado, ter sobrevivido;/ Ter virado a mesa, ter me conhecido/ Ter
virado o barco, ter me socorrido”.
Vá em frente, namoradinha do Brasil, interpretar o papel mais difícil de sua carreira.
E que Deus a proteja.
A namoradinha do Brasil
13 Jun 2020- 185