Quando eu tinha 18 anos, desfilando com os meus cabelos longos e jeito
rebelde pela praia de Copacabana, imaginava que era imortal e que o
tempo não passaria para mim. Estávamos em 1970, o Brasil Campeão Mundial
no México e eu jogando futebol de areia com os
meus amigos, paquerando as meninas e tocando rock and roll, imaginando que nada seria capaz de me deter e que a vida era apenas isso: festa e alegria.
Para mim, no vigor da juventude, um homem de 40
anos era “um velho” e o ano de 2.000 representava um futuro muito
distante , quase inatingível. A virada do século era tida como uma data
de forte simbologia e muitos chegavam a falar que
poderia significar o fim do mundo, de acordo com as projeções de
astrólogos e videntes.
O tempo seguiu o seu curso e muita água passou por baixo – e por cima – da ponte. Vim para
João Pessoa, casei, tive filhos, obtive vitórias , enfrentei
adversidades e sofri duras perdas de amigos e familiares que se foram antes do tempo ;
percorri uma longa trajetória que me transformou em avô de quatro netos e patriarca de uma grande família que sempre está a exigir
atenção e cuidados mas que, por outro lado, me enche de prazer e alegria.
Aos 67 anos, excetuando as inevitáveis marcas na face, os cabelos rareando
e a deliciosa maturidade que chega repleta de sabedoria,
não sou muito diferente daquele rapaz de Copacabana. O entusiasmo pela vida é o mesmo, a disposição para encarar novos projetos
permanece inalterada e a juventude do meu espírito me mantém
jovem a desafiar o tempo. Brinco com os amigos dizendo que não pretendo envelhecer. “No máximo,
serei um homem idoso, mas velho jamais”, repito, tentando me convencer disso .
E é com essa convicção que me mantenho esperançoso, embora preocupado,
com os rumos da humanidade, com a evolução desmedida da
engenharia genética, com o receio que o ilimitado desenvolvimento
tecnológico venha a produzir gerações de cyborgs, transformando homens e
mulheres em máquinas , sem sentimentos e sem valores
referenciais de família que , embora duramente agredida, ainda continua a
ser o principal alicerce da sociedade.
2020 chegou. Um número bonito, redondo, que marca o início de uma nova década. É de se esperar que
traga bom senso, serenidade, equilíbrio , tolerância, solidariedade,
caridade e fraternidade nas relações humanas e que esse novo tempo se caracterize como a era da paz e da concórdia;
que as palavras do filho do Homem soem mais
fortes em nossos ouvidos como o maior dos ensinamentos cristãos: “amar
ao próximo como a ti mesmo”.
Apesar dos perigos, vamos em frente! A luta continua.
Apesar dos perigos
13 Jun 2020- 187