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As canções do Roberto

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A minha vida foi toda construída sob a inspiração de suas musicas. Aos 12 anos,  ouvia a buzina  do seu Calhambeque, aquele mesmo carro em miniatura com que eu brincava nas ruas da Cesário Alvim. Aos 14, nas festas do colégio e em casa de amigos, experimentava a indescritível sensação de dançar de rosto colado ao som da Nossa Canção. “Vou cantá-la seja onde for, para nunca esquecer o nosso amor”, dizia a letra, singela e comovente.  Aos 15,  me apaixonei pela Namoradinha de Um Amigo Meu. Parecia que ele havia desvendado o meu segredo mais intimo e revelado a minha angústia. Ainda nesse tempo, interpretou a minha rebeldia mandando  tudo às favas. “Só quero que você, me aqueça nesse inverno, e que tudo o mais vá para o inferno”, bradava.  Por toda a adolescência ele esteve sintonizado  em meus sonhos  e  conquistas. As dores da primeira decepção amorosa e os Detalhes “tão pequenos de nós dois”,  me consumiam. Imaginar alguém “tocando o seu corpo como eu,  sem dizer nada “ era demais para mim que também  era cabeludo e usava calça desbotada.  Entre 16 e 17, com os hormônios em franca ebulição, ele foi de encontro aos meus pensamentos com a primeira Proposta indecente. “Eu te proponho, te dar meu corpo, depois do amor o meu conforto”, soprava ao me ouvido,  para eu criar  coragem e falar das minhas intenções  ao meu primeiro amor.  Ainda nesse período, revelou os  segredos da intimidade  feminina. “Vou cavalgar por toda a noite, por uma estrada colorida, usar meus beijos como açoite e a minha mão mais atrevida”, me ensinando  como se tocar uma mulher.  Aos 18,  foi mais além ao mostrar  o sentido da verdadeira amizade: “você meu amigo de fé, meu irmão camarada, de tantos caminhos , de tantas jornadas, aquele que está do meu lado em qualquer caminhada”, identificando aquele amigo com quem eu mais  contava.  Até o amor pelos meus pais ele conseguiu captar. A sua Lady Laura era em tudo e por tudo igual a minha mãe e a música poderia chamar-se Dona Vaninha. E aquilo  o que eu sempre quis dizer  ao dr. Abelardo ,  ele disse antes:  - “Seu sorriso franco me anima, seu conselho certo me ensina,  meu querido , meu velho , meu amigo”.  Há dois anos, depois de alguma frustradas tentativas, tive a oportunidade de estar com ele  pessoalmente,  convidado  para assistir ao show que faria no Spázzio, em Campina Grande, com direito a ingresso na primeira fila e o compromisso de uma visita ao seu camarim após o espetáculo.   Estava naturalmente ansioso em conhecer – ou seria reconhecer? -  alguém que já fazia parte da minha vida há tanto tempo. Com quem eu tinha a intimidade de um  amigo de infância. Ao vê-lo, senti a força de sua presença iluminada. Deu-me um abraço carinhoso como quem revê  um companheiro de  longa viagem e conversamos  sem qualquer protocolo.  Ontem  ele completou  80 anos.  A minha vontade é  de beijar-lhe as mãos e agradecer pelos seus exemplos de humildade, generosidade, simplicidade, afetividade e amor ao próximo que ajudaram a construir minha personalidade e que me fizeram  uma pessoa melhor.  Obrigado Roberto. Vida longa ao Rei!

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