- Não há mal que não traga um bem. A frase não é dela, mas minha mãe, a
dona Vaninha, filha do coronel Oswaldo Pessoa, a utilizava com
freqüência. Mulher de fibra, enfrentou muitos revezes e dificuldades,
sobretudo após a Revolução de Março de 1964 quando o
seu marido, cassado e proscrito , foi obrigado a cumprir longo exílio
de 4 anos em Lima, no Perú, deixando-a com as responsabilidades de
manter a casa e
a família numerosa.
Naquele tempo, os seus filhos viveram experiências distintas,
enfrentando discriminações e restrições em diversas situações. O
dinheiro era curto e tínhamos que nos apoiar uns nos outros. O meu irmão
mais velho, Oswaldo Pessoa Jurema, ex-vereador e ex-secretário
de Turismo em João Pessoa, passou à condição de mantenedor da casa e de
responsável pelos seus irmãos menores -
eu, Vanita , Rosalinda e João Luiz.
Pois foram exatamente essas dificuldades e experiências que consolidaram os nossos
laços familiares. A ausência paterna motivou um forte sentimento
entre nós. Aprendemos a
nos virar sozinhos, a procurar os nossos caminhos, a sermos humildes e a
darmos valor aos verdadeiros amigos. Nos tornamos pessoas melhores e
construímos as nossas vidas com coragem, vontade
e resiliência.
Estava certa a dona Vaninha: não há mal que sempre dure. E é nas adversidades e vicissitudes que descobrimos os verdadeiros valores humanos; o
sentido da vida; e
passamos a nos comportar com mais amadurecimento, deixando fluir
sentimentos generosos e altruístas. Também o meu pai, que regressou ao
Brasil depois de sofrer momentos de solidão e angústia,
vivendo num país estranho, de idioma e costumes diferentes, jamais
se queixou daquela amarga experiência, retirando dela os ensinamentos
que fortaleceram a sua personalidade e o seu espírito.
É do que me lembro agora nesses tempos de coronavírus, de isolamento, de
recolhimento, de reflexão e de sacrifícios. Tenho absoluta certeza que o
Brasil
sairá engrandecido desse episódio. As restrições impostas à
sociedade fizeram com que redescobríssemos os prazeres mais simples que a vida oferece,
como ficar em casa com a família; de conviver
com os filhos ; ler e escutar uma boa musica, além de deixar aflorar atitudes
nobres como a doação, a generosidade e o desejo de ajudar aos que conosco compartilham essa tormenta.
Acredito que, depois de tudo isso, o mundo jamais será o mesmo. A
pandemia há de transformar as pessoas, tornando-as menos
egoístas, mais atenciosas em suas relações e mais preocupadas com os seus semelhantes. O coronavírus
há de nos deixar preciosas lições de amor , igualdade, fraternidade,
humildade e compaixão.
As lições da vida
13 Jun 2020- 168