As rosas de outubro

  • 223
Fonte:
Imprimir

Abelardo Jurema Filho
 
Era a minha melhor amiga, com quem dividia as minhas emoções, os meus problemas e sobretudo, as minhas alegrias. Sempre mantivemos uma forte ligação, e com ela aprendi os segredos, os mistérios e, sobretudo, o fascínio do universo feminino. Estivemos juntos também nos momentos difíceis, naqueles turvos tempos de 1964, quando a família Jurema, capitaneada por dona Vaninha, passou por constrangimentos e discriminações em razão da ausência do meu pai, na condição de exilado político.
O seu nome era Rosalinda, minha irmã caçula, a mais bela rosa do meu jardim, com sua personalidade cativante, generosa, solidária e irresistível. Como pessoa humana, em gestos, palavras e atitudes, era capaz de dar a própria roupa para abrigar seu semelhante. Amava, indistintamente, pretos e brancos, pobres e ricos. Doava-se, integralmente, a quem a ela recorria nos momentos de aflição e de angústia.
Tinha apenas 38 anos quando foi diagnosticada com câncer de mama, em estágio avançado, numa época em que ninguém falava sobre autoexame e as condições de tratamento eram bem inferiores às que existem hoje. Não havia tomografia computadorizada, ressonância magnética e outros prodígios da tecnologia. Contamos mesmo foi com a experiência do médico oncologista Ivanildo Tomé de Arruda, um dos pioneiros na mastologia paraibana, que, apenas com o toque de suas mãos benfazejas, foi absolutamente preciso em seu diagnóstico.
A partir dalí iniciamos um verdadeiro périplo pelos maiores centros de saúde do País. Fomos a Campinas, em São Paulo, ouvir a palavra do médico José Aristodemo Pinotti, conceituado cirurgião paulista, já falecido. Consultamos outros especialistas, sem resultado. Rosalinda morreu aos 43 anos, após se submeter a todos os tratamentos possíveis na época, que envolveu prolongadas sessões de radioterapia e quimioterapia no Hospital Napoleão Laureano, insuficientes para conter o avanço da doença.
Hoje, quase três décadas depois, a ciência registrou muitos avanços e os índices de cura são elevados e bastante animadores, não apenas pela maior eficácia das drogas, mas, sobretudo, pela prevenção, principal aliada nesse processo.  
Nesse Outubro Rosa, inúmeras campanhas são desenvolvidas convocando a população a se engajar nesse movimento que visa evitar o crescimento dessa doença que ainda atinge milhares de mulheres em todo o país, muitas delas sem acesso a informações e condições para enfrentar essa patologia maligna.
Esta semana recebemos mensagem dra. Cláudia Studart Leal, médica mastologista respeitada em todo o País, convidando para participar do projeto Ágatha, com a finalidade de ajudar pacientes carentes no diagnóstico do câncer de mama com exames não oferecidos pelo SUS, incluindo uma caminhada marcada para o dia 24 de outubro.
É claro que estaremos lá. Rosalinda era libriana. Nasceu em 19 de outubro. Outubro é o mês das Rosas, das Marias e de todas as mulheres que tem direito à vida. E também de nós, homens, que as amamos e temos o dever de participar dessa luta.

no image
Matéria Anterior Grupo Holanda
Próxima matéria Cidadão pessoense
Leia também:

+Notícias

Não perca as mais lidas da semana

Grupo Holanda

27 Set 2025
  • 1108

Posse no TRE-PB

26 Set 2025
  • 919
no image
Ver mais notícias