Abelardo Jurema Filho
Eu o conheci em 1975 quando era funcionário da Assembleia Legislativa da Paraíba, na gestão do intrépido deputado Waldir dos Santos Lima, um dos grandes valores da política paraibana. Severino Ramalho Leite era deputado estadual atuante, inquieto, com presença assídua na tribuna ou no microfone de apartes, abordando, com autoridade e destemor, temas de interesse público, sobretudo para a região de Bananeiras, berço de sua atuação política, onde enfrentava as grandes oligarquias que dominavam a política do município.
Esta semana fui presenteado com o seu livro autobiográfico, “Era o que eu tinha a dizer”, uma obra indispensável para quem deseja entender a política da Paraíba numa de suas fases mais ricas e criativas. Na apresentação da obra, o autor faz a ressalva:
- Nunca me julguei tão importante que merecesse deixar as minhas memórias à posteridade. Mas vivi coisas que carecem serem lembradas. Ao meu redor, fatos e costumes da minha época, assinala.
Em verdade, como protagonista ou coadjuvante, Ramalho Leite teve participação influente em fatos marcantes da nossa história contemporânea. Como parlamentar, integrou o chamado Grupo Rebelde que, durante o regime militar, na presidência do poderoso general Ernesto Geisel, se insurgiu contra a decisão do Palácio do Planalto de indicar o professor Tarcísio Burity ao Governo do Estado, num tempo em que a eleição do governador era impositiva, realizada de forma indireta, referendada pela Assembleia.
Na apresentação do seu trabalho, Ramalho Leite faz outras considerações:
- Vivi vitórias e derrotas. Palmilhei no sofrimento e não guardei mágoas ou ressentimentos. Se na família somente colhi bons frutos, na vida pública, além dos sucessos, pude conhecer as fraquezas humanas – da ingratidão à traição. Não revidei. Ofereci a outra face e, no gesto, Deus me devolveu a perseverança e a certeza de novos caminhos.
Em suas confissões em que externa maturidade plena de sabedoria, o autor dá lições de democracia, de espírito público e da resiliência que fazem falta aos políticos de hoje:
- “Na convivência dos contrários, trilhei o caminho da paz. Fiz o bom combate e respeitei o pensamento alheio. Escutei o pequeno e acolhi as suas dores. Repeli a arrogância e a prepotência dos que se julgavam maiores. Nunca abri frente contra os indefesos, mas enfrentei com coragem os donos do Poder.
E conclui: “quem se debruçar sobre esses capítulos da minha lembrança, vai encontrar a sinceridade de um homem que exerceu cargos e funções, cumpriu mandatos e missões, sempre com a preocupação de não decepcionar os que nele confiaram. Se não o fiz bem, como desejei, mal não fiz a ninguém... É o que tenho a dizer”.
É esse o homem que está hoje na presidência da Academia Paraibana de Letras. A nossa instituição não poderia estar melhor representada por quem, no exercício do poder, nunca quis ser mais do que um homem. E que, na planície, nunca permitiu ser menos do que um homem.
Ave, Ramalho!
É o que tenho a dizer
06 Dez 2021- 234

