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Livre para voar

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Abelardo Jurema Filho
 
Em 1940, início da II Grande Guerra, quando contava 26 anos, o meu pai, Abelardo de Araújo Jurema, estava decidido a ser piloto da aeronáutica e chegou a fazer testes no Rio de Janeiro para ingressar na Força Aérea Brasileira. Já nos primeiros exames foi eliminado por conta da miopia, que descobriu naquele momento, e que o acompanharia para o resto da vida. Só fui saber disso anos mais tarde, quando ele me contava algumas de suas aventuras, numa juventude repleta de desafios que incluíam sua participação em regatas no Rio Capibaribe, em Recife, que disputava vestindo a camisa da equipe de remo do Náutico.
A paixão do “velho” Abelardo com a aviação era tão intensa que ele foi um dos fundadores do Aeroclube da Paraíba, figurando como Diretor de Promoção e Propaganda na ata de fundação do aeródromo, que tem 75 anos dos mais relevantes serviços prestados ao Estado, na formação de jovens pilotos e como pista auxiliar para pousos e decolagens para aeronaves de pequeno e médio porte.
Quanto a mim, sempre imaginei que tivesse problemas com a altura. Na infância, tinha receio de andar na montanha russa e nas rodas gigantes dos parques de diversões. Até que um dia fui desafiado a saltar de paraquedas para fazer uma reportagem para o programa Correio Espetacular, que apresentei por alguns anos na TV Correio, em parceria com a jornalista Linda Carvalho que hoje ainda brilha no comando do Jornal da Correio, principal informativo da emissora do dr. Roberto Cavalcanti.
E fiz um salto duplo, de uma altura de 12 mil pés, em companhia de um instrutor, vivendo uma emoção que não pode ser descrita, sentindo a liberdade plena de voar e ouvir o absoluto silêncio do firmamento. Cheguei ao solo com os meus próprios pés e chorei de emoção ao encontrar a minha mulher e filhos, que a tudo assistiam, incrédulos, mas orgulhosos com o que consideraram um ato de bravura e coragem de quem nunca se mostrou inclinado a esse tipo de proeza.
Foi ali que percebi que não havia herdado do meu pai apenas o gosto pelas letras, pelo jornalismo e pela comunicação. O espírito aventureiro daquele quase ex-piloto da FAB também habitava a minha personalidade. E, após a ousadia, deixei o medo de lado e voei de helicóptero e de ultraleve, filmando e fazendo fotos aéreas para matérias para a televisão.
Ontem pela manhã recebi uma mensagem de Rômulo Carvalho, ex-presidente do Aeroclube, piloto amador e apaixonado pela aviação. Lembrava que aquela data assinalava o 9º aniversário do voo que realizamos juntos em sua aeronave pelos céus do nosso litoral.
- Já tive o prazer de levar alguns amigos “corajosos” para fazer um voo pelas nossas lindas praias. Durante a preparação já percebemos aqueles que são pilotos, apenas não tiveram a oportunidade de desenvolver essa aptidão. Com o “comandante Abelardo” foi assim: olhos brilhando e sorriso solto. Quando dividi o manche e fizemos curvas, subidas e descidas, parecia um menino alado.
Depois desse testemunho, às vésperas de me tornar um “setentão” no próximo ano, já decidi: não vou embora desta vida sem repetir a experiência de voar como os pássaros.

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