Fonte:
Imprimir
Abelardo Jurema Filho
Não sou um erudito, como o mestre Evandro Nóbrega, nem um literato, como o são os meus colegas da Academia Paraibana de Letras. Sou apenas um jornalista, com 50 anos de profissão, que desde criança mantém uma forte familiaridade com as letras e as palavras. Ainda me recordo que, no curso primário do Ginásio Acadêmico, no bairro de Botafogo, ouvia de minha primeira professora, dona Maria Efigênia, o comentário encorajador: "você escreve bem e tem jeito para redação".
Foi assim por onde passei. Ao atingir o Curso Clássico – equivalente ao Segundo Grau de hoje – como aluno do Colégio Estadual André Maurois, uma escola pública no Leblon dirigida pela professora Henriette Amado - esposa do professor Gilberto Amado - que se transformou em um dos símbolos da geração carioca dos anos 60, tive a sorte de ter entre os meus mestres o professor Ivo Barbieri, que lecionava literatura, um craque que exercia o magistério com paixão e um fascínio inspirador, que sabia como motivar os seus alunos.E foi através do professor Barbieri, que, soube depois, chegou a ser reitor da UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro – que fui apresentado a Jorge Amado, o escritor de sua preferência, através de algumas de suas obras imortais que ganharam o mundo em diversos idiomas, fazendo do autor baiano um dos mais reverenciados ícones da literatura brasileira.
Comecei engatinhando na história dos Capitães da Areia, um relato comovente de um grupo de meninos adolescentes – Pedro Bala, Gato, Sem Pernas e Boa Vida – abandonados pelas suas famílias, que crescem nas ruas de Salvador praticando assaltos e perseguidos pela polícia. Um drama real que mexeu com os meus sentimentos e me fez compreender o que está por trás de crianças que vem a delinquir pela falta de educação escolar e o aconchego de um lar seguro.
Mais adiante, mergulhei na hilariante e sedutora personalidade de Dona Flor e seus Dois Maridos, que, durante algum tempo, perturbou a minha imaginação criadora e me fez desejar aquela mulher capaz de despertar a paixão em dois homens, simultaneamente. Com o mesmo ímpeto fui conhecer os mistérios da Morte de Quincas Berro D'água, um funcionário público que cansa da vida monótona do seu casamento e cai na farra até falecer em uma de suas orgias.
E, assim, prossegui passeando pela obra daquele grande escritor cujas histórias serviram de roteiro para filmes e novelas que encantaram o público brasileiro e também no exterior, em superproduções para o cinema e para a televisão.
Na semana que passou, resolvido a tirar férias por conta própria, fui a Salvador, a primeira capital do Brasil, berço do colonialismo português e estuário de nossas mais ricas tradições culturais. Fui disposto a transformar o passeio numa viagem ao Brasil Colônia; a enveredar pelos caminhos religiosos que fazem da Bahia um verdadeiro santuário; a conhecer os becos do Pelourinho e assimilar a sua influência na miscigenação racial que se observa nas ruas da capital baiana.
E foi lá que reencontrei Jorge Amado. O amado Jorge dos tempos do André Maurois. Entrei na casa do Rio Vermelho onde ele viveu por mais de quarenta anos ao lado de sua esposa e companheira Zélia Gattai. Vi a escrivaninha onde compôs as suas obras; o jardim que o inspirava na elaboração dos seus romances; o quarto onde dormia e até as roupas, coloridas e floridas, que revelavam traços marcantes de uma personalidade irresistível.
Jorge Amado é uma estrela incandescente que permanece iluminando e abençoando o céu da Bahia.

