Era assim que eu o cumprimentava, ou melhor , que eu reverenciava a sua presença iluminada: “amado Mestre”.
O cumprimento, sempre respeitoso e afetivo,
era fruto da minha admiração por aquela figura serena, bem
humorada, que parecia se divertir com o mundo onde conseguia enxergar a
natureza em toda a sua plenitude. Via o que os outros não vêem e era
capaz de fazer uma crônica apenas dissertando sobre
o canto de um passarinho
ou sobre a beleza de uma folha verde.
Era muito parecido com o meu pai que, segundo ele mesmo me contou, havia
sido seu professor de Literatura Brasileira no Lyceu Paraibano.
“Abelardo era um homem extraordinário, brilhante, que conquistava os
alunos e, principalmente, encantava as mulheres”, dizia,
com aquele jeito maroto de quem nunca se deixou envelhecer.
Um homem jovem aos 90 anos. Era como o observava
nas muitas vezes que nos encontrávamos, ele sempre
arrumado, com o seu suspensório e gravatinha borboleta, cuidado e
perfumado pelo filho pródigo, o arquiteto Germano Romero, que zelava
por ele como quem preserva uma jóia rara e preciosa. Lição de
amor por inteiro, profundo e comovente.
Ao me candidatar à Academia Paraibana de Letras,
contei com o seu voto. Passos lentos, mas firmes, amparado pelo braço
forte do filho, caminhou resoluto à urna de votação para fazer valer a
sua vontade e homenagear,
não a mim, mas ao filho do seu velho e querido
amigo. “Mas você escreve muito bem e com o coração”, soprou ao meu ouvido,
me estimulando a acreditar
na vitória.
“Seu passado vive, presente, nas experiências contidas, nesse coração
consciente, das belezas das coisas da vida”, diz Roberto Carlos, em uma
de suas
canções. Faço minhas as palavras do Rei
e as dedico ao professor Carlos Romero, o meu amado Mestre,
que se encantou esta semana e agora
é estrela que brilha no firmamento e que
pulsa em nossos corações.
O amado Mestre
11 Jun 2020- 225