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O aperto de mão

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Abelardo Jurema Filho  

Trocado com sinceridade, nada tem mais força e significado do que um aperto de mão. Simples e cordato, pode representar um compromisso assumido; um negócio fechado, um sinal de paz; um acordo selado ou apenas um gesto de apreço ou de amizade. Mais frequente entre os homens – há quem diga, maldosamente, que há mulheres que se entre beijam para não se morderem umas às outras – o ato pode simbolizar o fim de uma guerra ou de um grande conflito entre nações, de trégua ou reconciliação entre velhos amigos, ou até mesmo mortais inimigos políticos.
Em alguns casos, vale mais do que papel passado em cartório, documento assinado ou cheque pré-datado. Significa a palavra dada, a honra empenhada, o próprio caráter da pessoa expresso numa manifestação cordial e definitiva.
Anos atrás, quando o Regime Militar vigente no País caminhava para um processo de abertura democrática, iniciada pelo presidente Ernesto Geisel, o ex-ministro Abelardo Jurema foi sondado, pelo jornalista paraibano Marconi Formiga, se ele “apertaria a mão” do presidente João Batista Figueiredo que, àquela altura, havia anunciado que estava “de mãos estendidas”, convidando aqueles que desejassem compartilhar com ele a responsabilidade de governar o a Nação com todos os brasileiros.
- Apertaria sim. Sou um homem livre, maduro, sem mágoas no coração; que só tem compromissos com a minha consciência. Se o presidente do meu país, que já se comprometeu a assinar a anistia, estende as mãos à democracia, não teria problemas em atender a essa convocação.
Repórter arguto, de livre trânsito nos círculos do Poder na Capital Federal, colunista do poderoso Jornal de Brasília, Formiga agiu rápido .Entrou em contato com o general Figueiredo que, de imediato, determinou que fosse marcada a audiência que, no entender dele e de seus assessores, poderia simbolizar o apaziguamento na relação entre vencidos e vencedores e contribuir para o projeto de entendimento nacional proposto pelo Governo.
Alguns dias depois, o ex-ministro da Justiça do Governo João Goulart, que havia permanecido mais de 4 anos no exílio, seria o primeiro cassado pelo Regime Militar a ser recebido pelo Presidente da República, “de coração aberto, acreditando nos propósitos de um homem que prometeu fazer do nosso País uma democracia”, como frisou em entrevista à revista O Cruzeiro, ao sair do Palácio.
Naturalmente que o gesto conciliador do ex-ministro não agradou a todos, e também mereceu críticas e incompreensões. Sobretudo entre as correntes mais à esquerda que viram naquele aperto de mão um termo de rendição, como se ali estivesse um ex-prisioneiro de guerra a cumprimentar o seu algoz.  
Nesse momento de instabilidade e intransigência que vive o Brasil, dividido entre o fuzil e o feijão, com a sua Constituição ameaçada pelos os ânimos alimentados pela insanidade, ódio e a violência, nunca é demais lembrar o poder do aperto de mão, que continua a ser o instrumento mais eficaz para aplacar os desentendimentos e reaproximar os homens de bom senso, que ainda creem na concórdia, convencidos de que a democracia é a convivência dos contrários e que só o amor constrói para a eternidade.

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