Um diploma que mantenho emoldurado e fixado na parede do meu escritório lembra que, em 2022,
estarei completando 50 anos de jornalismo, uma marca expressiva que
poucos tem a felicidade de atingir,
que atesta aprovação ao meu trabalho e o acerto na
decisão de escolher esse caminho para ser útil à sociedade e
obter a minha realização pessoal e profissional.
O documento, que guardo orgulhoso, indica que foi no
dia 12 de fevereiro de 1972, aos 20 anos, ingressei
no Jornal do Brasil, à época a maior referência
da imprensa brasileira, presidido pela Condessa Pereira Carneiro e
dirigido pelo jornalista Walter Fontoura, nomes que marcaram a história
do JB em sua fase de maior prestigio e influência,
leitura obrigatória do carioca, com ressonância em todo o País.
Foi lá que tive a oportunidade de ver de perto os astros do jornalismo
como Armando Nogueira, Zózimo Barroso do Amaral,
Carlos Eduardo Novaes, Oldemário Touguinhó, Mauro Santayanna, Tarcísio
Holanda e outros ases que circulavam na redação onde eu era apenas um
“foca” tentando dar os primeiros passos em busca
do sonho de me transformar num instrumento comprometido com a
noticia e a boa informação.
Naquele tempo, na velha sede do JB, ainda na avenida Rio Branco,
quando o País vivia sob regime de exceção, onde valia a força e não o direito,
assisti o primeiro ato de violência praticado contra um
jornalista no exercício da sua profissão, quando homens de preto
invadiram a redação e levaram , coercitivamente, o veterano jornalista
Raul Riff,
sob a acusação de ser “de esquerda” e que estaria sendo preso pelo seu posicionamento político e ideológico.
Na Paraíba, onde iniciei a minha caminhada no semanário O Momento,
dirigido pelo valente jornalista Jório Machado, que mantinha uma linha
editorial considerada “independente” por não estar alinhada ao Governo ,
também testemunhei situações semelhantes de censura
prévia e ameaças de fechamento do jornal . Em O Norte, capitaneado por
Marconi Góes, a situação não era muito diferente. Uma pequena nota na
coluna Enfoque era o suficiente para o jornal receber uma intimação para
se explicar junto aos serviços
de segurança que cuidavam da imagem dos que exerciam o Poder absoluto naquela ocasião.
É triste observar que hoje, tantos anos depois, o jornalismo profissional esteja novamente ameaçado. Não pelos órgãos
de repressão que, pelo menos por enquanto, não foram reativados, mas pela intolerância de quem não permite o contraponto;
não sabe conviver com a liberdade de expressão e não respeita uma opinião divergente.
No meu caso , que não sou “esquerdopata” nem “direitopata”, tenho tido
dificuldades em exercer a minha profissão nesse período turbulento da
história brasileira.Sem amarras de um lado ou de outro,
me considero um jornalista livre, que
opina, comenta, critica e analisa os fatos dentro dos critérios que
considera justos, sempre a favor da democracia e do bem comum.
Mas não me deixo intimidar e pretendo permanecer assim: trabalhando com
ética, equilíbrio e responsabilidade, comprometido com o leitor, a serviço da
sociedade e em paz com a minha consciência.
O desafio do jornalista
25 Mai 2021- 150