Todas
as vezes em que tenho dificuldades de eleger um tema para abordar em
meus artigos, inspiro-me no meu pai, Abelardo Jurema. Ele é referência
obrigatória com suas histórias de quem viveu uma vida repleta de
relevantes experiências de um cidadão do mundo, que
exerceu papel influente na política brasileira como ministro da Justiça
do seu país. E também como exilado em Lima, atrás dos Andes, sendo o
mais simples dos mortais , desfeito de todos os seus privilégios.
É
dele que tenho recordações de passagens sobre alguns dos maiores
estadistas que marcaram a nossa história contemporânea, desde a Segunda
Grande Guerra, tema que dominava com fluência e o conhecimento de muito
poucos. Atributos que o levariam a ter seus textos divulgados
na Rádio Tabajara, sob o título “Do Teatro da Guerra” - retransmitidos
pela BBC de Londres -, com suas análises sempre pertinentes sobre o
conflito que provocou milhões de vítimas.
Um
dos homens públicos de sua preferência, que se enquadram na seleta
plêiade de estadistas, era o presidente Juscelino Kubitschek, democrata
por excelência, um dos maiores lideres políticos da história brasileira.
JK cumpriu um mandato de memoráveis realizações,
com projetos que alavancaram a economia nacional, implantando a
nossa indústria automobilística e inspirando confiança e otimismo ,
através da construção de Brasília como nova Capital do País.
Meu pai
contava que, durante sua gestão, Juscelino era o alvo principal do
jornal “Tribuna da Imprensa”, liderado pelo seu maior adversário, o
governador do Rio, Carlos Lacerda, que desenvolvia uma campanha
sistemática de denúncias sobre possíveis fraudes e irregularidades
em alguns setores da administração federal. Numa reunião ministerial, o
presidente foi aconselhado pelo seu ministro da Guerra, marechal
Henrique Teixeira Lott, do núcleo duro do Governo, a “fechar” o
periódico que era editado pelo valente e ácido jornalista
Hélio Fernandes. JK reagiu:
-
Não, Ministro. A “Tribuna” e o Carlos prestam um serviço ao meu
Governo, pois inibem a ação de dilapidadores do patrimônio público e
me auxiliam na árdua tarefa de identificar e punir corruptos e
corruptores.
Outro
aspecto a ser realçado na personalidade do grande político mineiro era o
seu poder de convencimento pelas palavras - a persuasão dos seus
argumentos, o respeito e a educação como tratava a todos, incluindo os
seus opositores. E quando se dirigia à Nação, não
falava em “nós e eles”, não dividia o País entre esquerda e direita,
entre pobres e ricos, entre heterossexuais e homossexuais, e muito
menos fazia distinção entre os que haviam votado nele e os que não
apoiaram a sua candidatura.
-
A partir deste momento, não sou o presidente do PSD. Sou presidente de
todos os brasileiros que se propõem a trabalhar pelo bem comum, a quem
convoco para se unirem a mim no propósito de levar o País ao seu
destino de grande Nação - declarou JK em seu
discurso de posse.
É
disso que sentimos falta no Brasil de hoje, especialmente nesses duros
tempos de pandemia, quando o povo brasileiro espera encontrar um homem
que pacifique o País, que fale para todos os brasileiros e não para os
seus seguidores na internet ou os que lhe
devem obediência. Um homem que adote postura altruísta, convergente,
conclamando todos a aderirem aos seus propósitos, que nos tranquilize
nesses momento de angústia e que nos faça acreditar em sua liderança
para superar nossos problemas e confiar no
futuro da Nação.
Enfim,
procura-se um estadista.
O estadista
09 Jul 2020- 168