O meu pai, Abelardo de Araújo Jurema, falecido aos 85 anos, que
experimentou revezes e conquistas, que conheceu o Poder e amargou um
prolongado exílio, costumava repetir que “a vida só gosta de quem gosta
dela”, dando a receita da longevidade e de como viver
plenamente, usufruindo tudo de bom que ela nos oferece.
Era o caso de dona Nevinha Pessoa de Aquino, que nos deixou esta semana.
Ela era uma das sete filhas – as sete Marias – do “coronel” Oswaldo
Pessoa , um símbolo da aristocracia paraibana do século passado , irmão
do presidente João Pessoa, que, por duas vezes,
foi prefeito da Capital.
À exemplo de suas irmãs – Maria Evanise , Maria de Lourdes, Maria do
Rosário , Maria da Penha , Maria Aparecida e, simplesmente, Maria –
foi criada para ser uma dona de casa, que, após freqüentar os melhores
colégios, estaria pronta para casar , ter filhos
e constituir família.
Mas “dona Nevinha” sempre foi uma mulher vanguardista e transgressora,
muito além do seu tempo. Casada com o médico Paulo Aquino,
não se conformando em ser peça decorativa, sem voz e sem opinião, desafiando os padrões da época
à favor da emancipação feminina.
Ela faleceu aos 91 anos de uma vida repleta de entusiasmo e de fortes
emoções, próprios de quem conheceu a fartura e a escassez, o prazer e
as vicissitudes. Valente e impulsiva, desafiava a medicina e os
conselhos do seu médico, dr. Marco Aurélio Barros,
surpreendendo pela sua bravura e vontade de viver, até ser chamada à presença do Criador.
- A morte para me levar vai ter que brigar muito comigo, dizia, sem se
intimidar diante do destino inexorável que aguarda a todos nós. Mas a
dona Nevinha, a tia Fuca, não morreu: encantou-se. E assim vai permanecer como exemplo de que a vida é para
os que gostam dela e deve ser vivida com otimismo, coragem, fé e esperança.
O gosto pela vida
11 Jun 2020- 178