Aos
quinze anos conheci o valor do trabalho,
graças à
minha
mãe, dona Vaninha, que me conseguiu um emprego na Rique S/A – Crédito,
Financiamento e Investimentos, empresa do grupo do paraibano Newton
Rique,
dirigida
pelo
executivo Lafayette Coutinho Torres, um velho amigo da família Jurema. Ainda um garoto, sem qualquer experiência,
iniciei como
office-boy, levando correspondências, despachando malotes e até
mesmo servindo cafezinho aos visitantes e companheiros de trabalho.
Estudava
no período da tarde/noite no Colégio Estadual André Maurois e,
até então,
tinha
muito tempo ocioso. Passava o dia na rua jogando bola com os amigos e
não valorizava o dinheiro que me permitia ir ao cinema ou comprar um
Chicabom. Não
possuía
noção
de economia e jamais havia entrado em uma agência bancária .
Foi
lá, no prédio da Rua
da Assembléia,
no Centro do Rio de Janeiro, que recebi as minhas primeiras lições de
que na vida é preciso plantar para colher. Que nada nos chega de graça.
Que é necessário esforço e perseverança para conquistar o que almejamos.
Que a brincadeira cessa quando precisamos
realizar
tarefas e cumprir obrigações.
E, principalmente, o prazer que representa receber a remuneração proveniente do nosso próprio esforço.
No
Brasil, o Estatuto da Criança cria muitos obstáculos ao trabalho de
adolescentes, não permitindo que exerçam atividade profissional
remunerada, nem que seja na quitanda do pai, ajudando no caixa ou
arrumando as suas mercadorias. Sob o entendimento de que
“lugar de menor é na escola”, impede-se que os pais orientem
os filhos para o trabalho como elemento indispensável à sua formação
moral, ao conceito de hierarquia, à necessidade do cumprimento de
obrigações para,
aí,
sim,
ter direito
ao
lazer e aos prazeres que a vida oferece.
É
constrangedor assistir a jovens
e crianças nas ruas, desolados e desesperançados,
pedindo dinheiro para comprar alimento ou, pior, alimentar o vício da
droga. É doloroso constatar quantas crianças estão por aí, vendendo
crack , se prostituindo e trabalhando para bandidos,
enquanto a sociedade lhes veda
portas para oportunidades
que possam favorecer a construção do seu caráter.
Na
semana em que se comemorou o Dia dos País, um vídeo divulgado na
internet, gravado por uma câmera de segurança, comoveu milhares de
pessoas. Um menino, entre
8 e 9 anos, levando uma caixa de engraxate nos ombros, entra
numa loja de miudezas com o objetivo de comprar um relógio, de R$ 29,00, para
presentear o pai, com o fruto do seu trabalho. Sensibilizado , o dono da loja parabeniza a criança e ainda lhe
devolve
o dinheiro:
-
Continue assim e você será uma grande homem!
Seu pai deve se orgulhar muito de você.
Também
me comovi com a cena. Fiquei a lembrar de um tempo, não tão distante
assim, em que era comum observar menores que, ao invés de portar
armas, munidos apenas de uma caixa de madeira, uma lata e uma
flanela, perguntavam:
- “Vai
uma graxa aí?”
O menor trabalhador
11 Ago 2020- 185