Nem todo mundo sabe que já fui vereador em João Pessoa.
O ano era 1982 , eu havia chegado há pouco tempo à Paraíba e ainda não conhecia as veredas desta cidade. Mesmo assim, incentivado pelo meu pai,
que sonhava me ver ocupando o seu lugar, decidi
ingressar na atividade política confiante que poderia seguir-lhe os
passos na vida pública, como profetizado pelo saudoso desembargador João
Pereira Gomes que, no meu nascimento,
enviou telegrama ao seu amigo, deputado Abelardo Jurema,
com os seguintes dizeres:
- Parabéns! Acaba de nascer o futuro governador da Paraíba.
Está claro que a profecia não se concretizou. Como suplente de vereador –
obtive 1.365 votos e fiquei a um voto de diferença do segundo suplente,
o vereador Valdomiro Ferreira, o Cabeção, pai do ex-vereador Tavinho
Santos – tive uma atuação discreta por conta
da interinidade do mandato e, também, pela inexperiência parlamentar,
que me tolhiam os movimentos e me deixavam refém do sistema impiedoso
que prevalece até hoje nas relações com o Poder.
Naquela época, a campanha era feita com poucos recursos. Não haviam
agências especializadas em marketing eleitoral e os candidatos se
viravam como podiam, fazendo comícios em cima de caminhões, distribuindo
favores – naquele tempo a fiscalização do TRE era
bastante branda nesse sentido – e conquistando os eleitores à base de muita conversa e poder de convencimento.
Mais recentemente, em 2010, a mosca azul voltou a me infectar e decidi
me aventurar na luta
por uma cadeira na Câmara Federal,
disputando uma vaga com os grandes nomes da política paraibana. Fiquei
longe de me eleger, com pouco mais de 5 mil votos.
Ingenuamente, acreditava numa renovação do parlamento, numa mudança de mentalidade, e fiz uma campanha limpa, propositiva, mas
bastante modesta, com recursos próprios e a ajuda de amigos.
Agora, vejo o Senado Federal decidir pela aprovação do
chamado Fundo Eleitoral, uma verba
astronômica destinada aos Partidos para bancarem o projeto dos seus
candidatos. Deputados e senadores conseguiram, finalmente, encontrar uma
fórmula legal - e muito cômoda
- para se eternizarem nos seus cargos, obrigando o erário
a pagar as suas despesas eleitorais;
os santinhos, as faixas e cartazes; a produção de vídeo, jingles, os custos dos “cabos eleitorais”
e tudo o mais que cerca uma campanha política onde, praticamente, tudo é permitido.
Estranho País o Brasil, onde a nossa indignação não encontra um instrumento jurídico eficaz para
impedir esse descalabro.
O saco sem fundo
11 Jun 2020- 171