Esta semana, uma data emblemática da história recente do Brasil passou
praticamente em branco, sem qualquer registro nos meios de comunicação.
Envolvidos com a grave crise provocada pela pandemia do coronavírus,
todos estão voltados apenas para as
conseqüências dessa tragédia que ameaça a humanidade, espalhando o medo, a insegurança e a incerteza no futuro.
Para mim, entretanto, o dia 31 de março tem um significado muito forte
na vida de toda a família Jurema que, nesta data, há 56 anos, estava
segregada e ameaçada no endereço
da Cesário Alvim 27, no Rio de Janeiro,
assistindo os militares tomarem o Poder e sem ter noticias do então
ministro da Justiça, Abelardo Jurema, àquela altura preso no Quartel
General do Exército, sediado no bairro da Urca.
Eu tinha apenas 11 anos mas já percebia que algo de anormal estava
acontecendo. Minha mãe muito nervosa, recebendo o apoio dos amigos leais
, e nós, os filhos menores, aconselhados a não sair de casa. Na
televisão e nas rádios o assunto era um só, o levante
militar que derrubara o Governo, as perseguições
aos seguidores do presidente João Goulart e as ações conspiratórias do
governador Carlos Lacerda, o verdadeiro líder civil do movimento
militar.
Naquele dia, no início da noite, acordei com a presença de soldados
em nossa sala de estar. Intimidando minha mãe, meus irmãos
e os que lá estavam – entre eles o economista Lafayette Torres, o piloto João Carlos Pessoa de Oliveira ( neto do presidente João Pessoa),
o engenheiro Roberval Guimarães, Elza e Antônio Daniel Carvalho,
Laura e Hiran Morais, todos paraibanos , que permaneceram conosco
naquele tempo de aflição e angústia.
Num segundo momento, policiais comandados pelo delegado Cecil Borer,
nome temido pela bandidagem carioca, fizeram idêntico procedimento,
invadindo e vasculhando a casa à procura do ministro Abelardo Jurema
que, àquela altura, já se encontrava asilado na embaixada
do Perú, aos cuidados do embaixador César Elejalde, de onde partiria
para o seu prolongado exílio em Lima.
Trago essas histórias ao conhecimento dos leitores diante da inquietação
porque passa o Brasil, com a intolerância e o radicalismo
predominando nas relações pessoais, de parte a parte, agravando ainda mais o clima de instabilidade política,
econômica e social que afeta a vida de todos os brasileiros. O momento exige
serenidade, solidariedade e união, acreditando
nas autoridades da Saúde e nas providências que estão sendo tomadas,
rogando a Deus para que possamos sair dessa situação com saúde, mais
conscientes e fortalecidos.
Não é hora de estéreis discussões políticas: o inimigo agora é outro.
O verdadeiro inimigo
13 Jun 2020- 183