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Os valores de cada um

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Abelardo Jurema Filho  
 
A propósito da recente viagem do ex-ministro Sérgio Moro à Paraíba, como candidato à presidência da República, recordo uma passagem interessante na vida do meu pai, Abelardo de Araújo Jurema, quando exercia o Ministério da Justiça e Negócios Interiores, um dos mais altos cargos da República, na gestão do presidente João Goulart. Essa história me foi passada pelo advogado Harrison Targino, um dos mais capacitados juristas da Paraíba, e foi retirada do livro do jornalista Sebastião Nery, nome que marcou época na Imprensa nacional, em que relata episódios da política brasileira. Ei-la:  
- “Ministro da Justiça do Governo João Goulart, em 1962, Abelardo Jurema recebeu, uma noite, um telefonema do jurista Evandro Lins e Silva.  
- Abelardo, estou viajando para o Perú para representar o Brasil na posse do presidente Belaunde Terry certo que eu seria nomeado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Mas acabo de ser informado de que o escolhido é você. O que é que eu vou fazer dos uísques e dos champanhes que minha mulher comprou para as comemorações? E deu uma gargalhada do outro lado do fio. Abelardo não sabia de nada:  
- Evandro, estou surpreso com o que você diz. O presidente nunca me falou nisso. Mas pode viajar tranquilo. Amanhã cedo vou falar com o ele e lhe direi o resultado da conversa.  
No despacho da manhã, Abelardo puxou o assunto. Jango confirmou: “Abelardo, a vaga é sua”. Jurema retrucou: “Não presidente, a vaga é sua. O senhor nomeia quem quiser”.  
- Mas porque o Evandro, ministro de Estado, vai querer ir para o Supremo?  
- Presidente, acontece que, deixando o ministério, eu volto a ser deputado. Ele vai ser advogado.  
- Mas, para mim, a vaga é sua.  
- Se é assim, presidente, me permita redigir o ato nomeando o Evandro para o Supremo.  
Daí a pouco, em Lima, Evandro Lins e Silva recebeu o ato de sua nomeação.  
O fato é significativo para demonstrar a grande diferença que separa os políticos de ontem e de hoje. De um lado, o ex-ministro Moro, guindado à posição de paladino da Justiça ao desencadear uma verdadeira guerra à corrupção que grassava forte no País, com a prisão dos nomes mais poderosos da política brasileira, que não titubeou em abdicar de sua vida de magistrado, renunciando ao cargo de Juiz Federal, conquistado por concurso público, atraído pela possibilidade de alcançar o posto máximo da magistratura brasileira como membro do Supremo Tribunal Federal, num projeto frustrado que lhe custou a carreira tão duramente construída.  
De outro, o paraibano Abelardo Jurema, que ocupou os mais relevantes postos da República, como deputado federal, Líder do Governo JK e Ministro da Justiça do seu país, que preferiu permanecer na vida pública, sua real vocação, sem se afastar, nem um milímetro, dos seus ideais, mesmo com a oportunidade de um emprego vitalício, de alta projeção, que lhe renderia uma aposentadoria tranquila e repleta de privilégios.
Jurema morreu sem deixar bens, exceto esses exemplos de caráter e integridade, que recebi como herança e que preservo como um tesouro.

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