Abelardo Jurema Filho
O meu primeiro contato físico com a Rádio Tabajara da Paraíba aconteceu tão logo desembarquei em João Pessoa com o intuito de me estabelecer em definitivo. Estávamos em 1976 e eu ainda ensaiava os primeiros passos na comunicação paraibana como colunista do jornal O Momento, o valoroso semanário que fez história na Imprensa da Paraíba sob o comando do valente Jório Machado.
Estava concluindo o curso de Direito na Faculdade Autônoma, hoje Unipê, quando recebi o convite do meu professor de Prática Forense, Marcos Souto Maior, hoje desembargador aposentado, que, à época, assumira o comando da emissora oficial do Estado, para integrar o os seus quadros ao lado de nomes consagrados como Geraldo Cavalcanti, Gilson Souto Maior, Marcondes Brito, Ivan Tomás, Roberto Carlos de Oliveira, Spencer Hartmam, Bolinha, Ivan Bezerra, Petrônio Souto e outros ases da radiofonia paraibana.
Durante alguns meses, nos estúdios montados na sede da avenida João Machado, apresentei o programa “Status Social”, que ia ao ar nas manhãs de sábado, destinado ao público jovem, onde atuava como um disc jockey com um perfil musical entrecortado com notícias de interesse da juventude. Uma experiência fascinante que ainda me rendeu uns bons trocados com o patrocínio das Farmácias Padre Zé, do saudoso Josélio Paulo Neto, da Movelaria Pernambucana, de Gilda Almeida, o leite Salp, de Mauricio e Miriam Gama e do Laboratório Maurílio de Almeida, dirigido pelo seu fundador.
Logo descobri que toda aquela intimidade com a atividade radiofônica tinha uma razão de ser: meu pai, Abelardo de Araújo Jurema, tivera participação muito importante na história da Tabajara, que dirigiu durante 5 anos, exatamente no período mais dramático da II Grande Guerra, de 1940 a 1945, quando seus comentários, sob o título de O Teatro da Guerra, com narração do locutor Orlando Vasconcelos, ultrapassaram as fronteiras do País e eram retransmitidos pela BBC de Londres, fato que é registrado em livro pelo historiador José Octávio de Arruda Melo.
- Quando a sirene da Imprensa Oficial tocava, a Tabajara entrava no ar com os comentários de Abelardo analisando as batalhas mais recentes da Europa, Norte da África e Extremo oriente e os lineamentos políticos do conflito, relembra JO.
Foi, também, na gestão do dr. Abelardo Jurema que a Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, ganhou asas e passou a se apresentar pelo Brasil afora. E foi o próprio Severino Araújo, antes de uma apresentação no ginásio do Cabo Branco, que me confidenciou que, “se não fosse o seu pai”, ele e seu grupo jamais teriam conseguido viajar ao Rio de Janeiro para conquistar o País. “Foi ele quem garantiu as passagens para a nossa aventura”, salientou.
Semana passada participei das solenidades comemorativas aos 85 anos da Tabajara. Ocupei lugar à mesa de honra ao lado de nomes que escreveram e continuam escrevendo a sua história. Muito comovido, narrei as minhas experiências com a emissora e relembrei a passagem do meu amado pai na evolução daquele sonho, inaugurado em 25 de janeiro de 1937, com um discurso de Argemiro de Figueiredo que bem sintetizava a importância daquele momento: - “E raiou um novo som nas noites calmas da província”, saudou o admirável tribuno.
E o som continua a ecoar e o sol a brilhar nas ondas da Rádio que transmite a voz da Paraíba.
Pelas ondas do rádio
01 Fev 2022- 212

