Ninguém tem dúvidas dos benefícios que as chamadas redes sociais
trouxeram para as relações humanas. Graças à elas, foi possível resgatar
velhas amizades, reencontrar e se reconectar
aos amigos de infância, estabelecer novos contatos, emitir opiniões, expressar os nossos pensamentos e
, sobretudo ter um veículo próprio para manifestar as nossas
insatisfações, protestar contra as injustiças e ter sempre â mão um
instrumento poderoso de comunicação instantânea.
Mas o que fere é a sua utilização irresponsável como instrumento de
agressão à honra alheia; é acusar sem provas e sem conhecimento; é denegrir
instituições, apedrejar os que discordam
de nossas opiniões; julgar e condenar como se estivéssemos em um grande
tribunal na condição de réu e de juiz, onde todos são culpados até
provarem que são inocentes. São as fakenews, hoje motivo de inquérito no
Supremo Tribunal Federal, numa tentativa de conter
o seu avanço criminoso e irresponsável.
Na minha adolescência no Rio de Janeiro, quando me fascinava ler os
muitos jornais disponibilizados nas bancas, todos ricos em conteúdo com
farto material informativo, cultural e
didático, tinha uma especial predileção pelo Ultima Hora, um vespertino
fundado e dirigido pelo célebre Samuel Wainer, discípulo do paraibano Assis Chateaubriand.
No Última Hora, um colunista despertava , particularmente, a minha
atenção: o nome dele era Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que
fazia um trabalho que transitava entre o real e a fantasia, entre a
política e o esporte, entre o humor e a critica, num jornalismo
eclético e abrangente, com um jeito irreverente do
carioca que me agradava bastante. Foi ele quem
criou o Febeapá – o Festival de Besteira que Assola o País, onde
enumerava os muitos disparates e aleivosias que observava nos quatro cantos
na nossa Terra Brasílis.
É o que temos hoje nas nossas redes sociais – ou seriam
redes antissociais? - onde de tudo se
encontra. São profetas do absurdo a proclamar o fim dos tempos;
“analistas políticos” que produzem teorias da conspiração inaceitáveis;
cientistas sem formação a produzirem fórmulas milagrosas;
médicos sem jaleco nem diploma oferecendo receitas infalíveis e
fanáticos – de todos os lados – a extravasar os seus ódios e as suas paixões.
Abriu-se espaço para a inveja, ao confronto racial, político e sexual; à
intolerância, ao mau humor e ao desrespeito , num processo autofágico
onde todos tem razão e desejam impor aos outros os seus
pensamentos e predileções, sem falar em
grupos diabólicos, por vezes paramilitares,
criados para extorquir, chantagear, intimidar , entre
outras práticas criminosas que estimulam a prostituição e a pedofilia, dois dos grandes males do nosso tempo.
A hora é de rever tudo isso gente. Na quarentena, o tempo é de reflexão e
amadurecimento. É preciso se informar antes de falar; de checar antes
de repassar e estudar
antes de emitir opiniões infundadas e nocivas à saúde e ao bem coletivo. Não vamos permitir que, tantos anos depois, se restabeleça
no nosso amado Brasil o Febeapá, do nosso inesquecível e bem aventurado Stanislaw Ponte Preta.
Rede antisocial
16 Jun 2020- 190