1930: Os fatos da Parahyba

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Ramalho Leite
Presidente do IHPG e escritor membro da APL

Estamos a rememorar os fatos que levaram o Brasil à chamada Revolução de 1930. Noventa e um anos são decorridos. A Parahyba que, no contexto da Federação de então tinha pouca relevância, terminou por desempenhar importante papel. Tudo graças a um homem que, imolado no desempenho de sua missão, mesmo se dizendo contrário a qualquer movimento armado, a sua morte, prematura e violenta, terminou por se tornar a bandeira das mudanças que o País atravessaria. Refiro-me a João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Mesmo sem o pretender, foi ele, o Presidente da Parahyba, que deu os primeiros passos na caminhada revolucionária. A revolução estava nas primeiras palavras que proferiu, dirigidas aos paraibanos. Seu discurso de posse, perante uma assembleia de coronéis, chefes e chefetes políticos acostumados a velhos costumes, revelou um arauto de novos tempos. Suas ideias, tornadas públicas naquela ocasião, pretendiam, por exemplo, impedir a renovação dos mandatos legislativos, uma revisão da legislação eleitoral contra o voto dos semianalfabetos, justificando: “deputados e senadores perpetuam-se nas funções, fiados apenas no valor que lhes dá o oficialismo dos seus partidos. Descuram-se dos seus deveres, perdem o estimulo, não indagam das necessidades do estado, submetem-se a um incondicionalismo que os desprestigia e não cuidam de conquistar a renovação dos mandatos à custa de serviços”.
Tocou fundo à casta dos coronéis a oração do Presidente, quando tratou da ordem pública:  “Não trago a convicção de extinguir o cangacerismo nos nossos sertões; mas venho com o propósito de não lhe dar tréguas, esteja onde estiver e seja quem for o seu protetor ou seu homiziador. Quem se sentir humilhado com a ação da polícia, que não o acolha em suas casas e propriedades”. Foi um torpedo com endereço certo.
Adiante, o Presidente volta à reforma eleitoral pretendida e ensina: “Não há boa eleição sem bom eleitor; não há bom eleitor sem voto consciente e não há voto consciente sem eleitor independente. Antes do voto secreto, que não modificará nossos vícios eleitorais, pois que o eleitor continuará a depositar na urna a chapa que lhe foi entregue pelo cabo eleitoral ou mandão da aldeia, aporta da secção, nas vilas e cidades do interior, tendo apenas o trabalha de colocá-la no envelope, fornecido pela mesa eleitoral...”
A plateia era formada, especialmente, pelos deputados estaduais que foram a Palácio levar sua solidariedade ao novo governante. “Que discurso rebelde”, teria dito um deles, segundo ouviu o jovem repórter João Lelis.
Dirigindo-se diretamente ao seu antecessor, João Suassuna, o empossando foi enfático e agradecido: “Sou muito reconhecido sr. Presidente, pela bondade com que me distinguistes durante o vosso governo e agora mesmo insistis em acentuar quanto ela me é tributada em demasia. Guardo-a desejoso de poder retribui-la com a mesma sinceridade com que a praticastes e estais praticando neste momento, serei no governo o amigo que vós conhecestes fora dele”.
Foi justamente o deputado João Suassuna a vítima do primeiro mandamento da plataforma que o novo presidente anunciara aos paraibanos, excluído da lista dos futuros deputados federais em nome da não renovação dos mandatos. Como toda regra, esta teve uma exceção e, Carlos Pessoa, já deputado, mas membro da família, continuaria na chapa e teria seu mandato renovado. Esse erro de João Pessoa foi a gota d’água.
A reação de amigos fieis à liderança de Epitácio Pessoa, à exclusão de Suassuna, começou com o rompimento político do coronel e deputado José Pereira Lima, soba de Princesa e com atuação em vasta área sertaneja. Depois de receber em sua casa o presidente João Pessoa, cientificado da nova chapa a ser apresentada às urnas, dois dias depois, o coronel comunica seu apoio aos nomes apresentados pelo presidente Washington Luiz, retirando-se da luta em favor de Getúlio Vargas e João Pessoa, candidatos a presidente e vice da Republica, apoiados pela Aliança Liberal.
José Pereira se isola em Princesa, transformado em Território Livre e, organiza uma força de milicianos para enfrentar as tropas legais. Através de Pernambuco, Pereira recebia incentivos, dinheiro e armas do poder central, além do apoio disfarçado dos governos de Pernambuco e Rio Grande do Norte, enquanto a João Pessoa era negado o direito de aparelhar sua polícia para o enfrentamento dos rebeldes. A esses acontecimentos que banharam de sangue os campos sertanejos, se chamou Campanha de Princesa ou Guerra de Princesa ou ainda Luta de Princesa. A começar desse cenário, os fatos que tiveram palco na Parahyba, alcançaram ampla repercussão no território nacional, notadamente nos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul que, unidos à Parahyba, formaram os três únicos estados a compor a Aliança Liberal. No Distrito Federal, a imprensa também se ocupou da divulgação dos acontecimentos registrados na Parahyba.







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