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Carlos Pereira de Carvalho
Engenheiro e escritor
Eu nasci 8 anos depois de sua morte, de modo que tudo que sei sobre ele, ou me foi contado por pessoas que o conheceram ou pelo que consegui ler e apreender da sua vida. Quem primeiro me falou sobre João Pessoa foi o meu pai, aliás, fê-lo de maneira arrebatada e até apaixonadamente. Não negava a sua profunda admiração por aquele a quem considerava o “maior paraibano de todos os tempos” e, quando se referia ao Presidente, a gente até pensava que o personagem era Getúlio Vargas – mas o que, ele se enchia de orgulho de ter conhecido aquele que “revolucionou os métodos de governar”.
Para mim, quando criança, o meu pai era o meu ídolo, o meu herói – e como tal, tudo quanto ele me dizia era importante e absolutamente verdadeiro e, mais do que isso, eu passava a ter a obrigação de ouvir, aceitar e decorar para futuras discussões, principalmente nas classes do curso primário, ali no Grupo Escolar Santo Antônio, em Jaguaribe, onde aprendi minhas primeiras letras.Foi assim que, já aos 7, 8 anos, ouvia e já me deleitava com as narrativas que pai fazia sobre o que fizera em vida, o grande Presidente. Falava-me (e eu ficava imaginando como se tivesse testemunhado) das profundas modificações que João Pessoa fizera na administração estadual, a partir de coisas simples como, por exemplo, tirar os presos das cadeias durante o dia a fim de que eles trabalhassem para o Estado, na limpeza das praças, no calçamento das ruas ou na abertura de valas de esgoto. Ou ainda, da sua severa determinação de não permitir nomeações políticas para cargos de Agente Fiscal, Delegado de Polícia ou Diretor de Grupo Escolar – norma, aliás, depois defendida pelo então Governador José Américo de Almeida. E, meu pai, se derramava em elogios à sua enérgica ação inibidora dos desmandos dos chamados coronéis do interior, reduzindo-lhes o poder, sobretudo nas eleições municipais, feitas sem o protecionismo descarado e desbragado do Governo, pela primeira vez na história da política estadual.
E ele, o meu pai, alguns anos depois, quando já eu me entendia como gente, embora estivesse na adolescência dos meus l5 anos, não se cansava de repetir uma frase que me marcou muito durante a vida:
- Meu filho, a Paraíba tem a obrigação de render um tributo eterno a João Pessoa, porque ele foi e será o maior filho desta terra que ele tanto amou.
Talvez por essa influência paterna e, seguramente muito mais pelo que li e ouvi de tantos outros – inclusive de autores de livros e de políticos sérios consagrados, é que nos dias de hoje me inscrevo entre aqueles que passaram a comungar do mesmo pensamento de que João Pessoa, mais que um mártir, foi e será uma legenda para o nosso Estado, e porisso mesmo, a sua memória não apenas deve ser respeitada, mas todas as homenagens que a Paraíba prestar ao seu grande Presidente serão sempre justas e oportunas – como a que Governo e povo fizeram há alguns anos, trazendo para a praça que tem o seu nome, ao lado do Palácio que ele tanto honrou, os seus restos mortais, para que aqui ele ficasse para sempre, ao lado dos seus.
Devo dizer, antes de concluir, que guardo nos meus alfarrábios, como uma verdadeira relíquia, cópia (já esmaecida pelo tempo) do Ato no. 811-O/D, de 28 de novembro de 1928, gravado nos seguintes termos:
”O PRESIDENTE DO ESTADO, conforme proposta do Sr. Dr. CHEFE DE POLICIA, resolve nomear BENEDICTO LADISLAU DA SILVA para exercer o cargo de SUBDELEGADO DA CIRCUNSCRIÇÃO DE TACIMA, servindo de título ao nomeado a presente Portaria. Assinado, João Pessoa Cavalcante”.
E é também por isso e tudo o mais que, eu que nasci e vivo nesta bela cidade há 80 anos, só posso terminar estas linhas dizendo:
Tenho orgulho de ser paraibano e não dou a mínima para um presidente (com p minúsculo) da República amalucado, que usa “paraíba” como termo pejorativo.